João Batista de Andrade
João Batista de Andrade nasceu em Ituiutaba (MG), em 01 de dezembro de 1939. Em 1959, migrou para São Paulo, onde prestou vestibular para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Na universidade formou o Grupo Kuatro, com quem realizou os primeiros filmes. Em 1966, dirigiu seu primeiro filme fora do Grupo, o documentário Liberdade de Imprensa. Patrocinado pelo jornal Amanhã, editado pela Une, o filme teve apenas duas exibições fechadas antes de ser proibido pela censura. Em 1968, dirigiu o filme Gamal, o delírio do sexo, obra influenciada pelo movimento underground que rendeu a João Batista a identificação com o movimento do Cinema Marginal. No início dos anos 1970, foi convidado por Fernando Pacheco Jordão e Vladmir Herzog para integrar a equipe da TV Cultura no programa jornalístico Hora de Notícia. Alguns anos mais tarde foi incorporado ao programa Globo Repórter, que nessa altura contava com a paricipação dos cineastas Paulo Gil Soares, Maurice Capovilla, Hermano Penna, Eduardo Coutinho e Walter Lima Júnior. Fora da televisão, João Batista realizou nos anos seguintes quatro filmes de longa-metragem: Doramundo (1977), ganhador dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Gramado; O homem que virou suco (1981); A próxima vítima (1982-83) e O país dos Tenentes (1987). Com o advento da era Collor, o diretor permaneceu oito anos sem filmar, voltando à atividade em 1996 com o filme O cego que gritava luz.
Doutor em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da USP (1999), autor do livro O povo fala (Editora Senac; 2001), João Batista construiu sua carreira cinematográfica sempre ligado à militância política e atuou em diversas frentes do cinema e da cultura brasileira. Atualmente é Diretor Presidente da Fundação Memorial da América Latina.
Memória do Cinema Documentário Brasileiro: histórias de vida
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ENTREVISTA 1: 26.02.2013
- 00:00:52 1º Bloco: Origens familiares; personalidade da mãe; paixão pelo cerrado; lembranças de Ituiutaba (MG) como capital agrícola; os irmãos; os estudos primários; ida para Belo Horizonte; volta para Ituiutaba; crescimento profissional da mãe; estudos no Instituto Marden; ida para Uberaba com o irmão mais velho.
- 00:13:51 2º Bloco: O irmão mais velho e o trabalho para pagar a faculdade de Odontologia; ida para Uberaba com o irmão mais velho; casamento da irmã em Ituiutaba; o irmão Zizinho; trajetória profissional do irmão mais velho.
- 00:21:18 3º Bloco: A presença do cinema desde a infância; séries que assistia no cinema; o capital cultural familiar; intelecto na vida escolar; inquietações e cobranças da juventude; o interesse por cinema; conclusão dos estudos em Belo Horizonte; indecisão sobre o caminho profissional; o curso pré-vestibular.
- 00:35:31 4º Bloco: ingresso no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR); imersão no campo cultural; a república onde morou; influência de seu grupo para os moradores da república; a frequência em sebos e livrarias; entrada no Partido Comunista Brasileiro (PCB).
- 00:43:05 5º Bloco: Serviço militar; marcação que sofria por parte de oficiais; a classificação comunista e a faculdade; o jornal literário na Casa do Estudante; a “Escola Psico-Realista”; histórias da república; consolidação de seu perfil intelectual; identificação com a obra de Dostoievski; a solidão social; o desejo de ser reconhecido.
- 00:55:10 6º Bloco: O mergulho na política; dirigência do Movimento Estudantil; afastamento gradativo dos estudos em consequência da imersão na política; o golpe de 1964; fuga às pressas do Comando de Caça aos Comunistas; a destruição do partido; memórias do golpe.
- 01:05:57 7º Bloco: O longa-metragem “Travessia”; a efervescência cultural a partir dos anos 50; reconhecimento internacional dos movimentos culturais brasileiros; opção de não aderir à luta armada; contato com Carlos Marighella em 1963; o Congresso clandestino do PCB em 1966; opção pelo posicionamento democrático; postura que o influenciou em trabalhos futuros.
- 01:13:19 8º Bloco: O Grupo Kuatro de Cinema em 1963; sessões com Francisco Ramalho; publicações do grupo e no jornal do curso politécnico; paixão pelo Neorrealismo e pelo cinema de animação livre; o cinema brasileiro em 1963; contato com outros cineastas; aproximação com cineastas do Rio de Janeiro; Associação Paulista de Cineastas.
- 01:20:36 9º Bloco: Quando conheceu Fernando Birri; a revista Caderno da Poli; fim da Revista Poli e do Grupo Kuatro; ida ao I Encontro Latino-Americano de Cinema em Buenos Aires; materiais de filmes perdidos em São Paulo no período do golpe; o filme “Teatro Popular Nacional” e seu sumiço; parceria com Renato Tapajós; filmagens e suas dificuldades; ajuda de Roberto Santos na montagem.
- 01:30:42 10º Bloco: Realização do filme “Liberdade de Imprensa” com a União Nacional dos Estudantes (UNE); apreensão do filme pelo exército; trabalho na Cinemateca Brasileira; exibição de “Liberdade de Imprensa” na Alemanha Oriental; proibição do filme na Alemanha e convite de exibição na França; o conceito “documentário de intervenção” de Jean Claude Bernardet.
- 01:45:32 11º Bloco: Influências literárias; método de filmagem de “Imprensa Livre”; observações de Jean-Claude Bernardet sobre o filme; o caso do operário reacionário; a Frente Ampla em 1967; a entrevista com Carlos Lacerda; a importância de filmar o inimigo; o cinema como construtor de valores; influência do projeto estético de “Liberdade de Imprensa” em “Hora da Notícia”.
- 02:01:40 12º Bloco: Situação financeira na faculdade; trabalho na Cinemateca Brasileira; primeiro casamento e primeira produtora em 1965; nascimento dos dois filhos e insegurança na vida profissional; o cinema marginal e suas críticas; prêmios; a ânsia de filmar o Brasil e suas questões políticas; vontade de retomar o projeto “Liberdade de Imprensa”.
- 02:06:23 13º Bloco: A produtora TECLA; o projeto realista “Horizópolis”; o projeto “Anuska Manequim e Mulher”; impossibilidade de realizar “Horizópolis”; filmes clandestinos e prisão durante as filmagens; prêmio Air France; volta para o Brasil; entrevista e exibição do “Liberdade de Imprensa” na British Broadcasting Corporation (BBC); repressão nas viagens aos festivais.
Memória do Cinema Documentário Brasileiro: histórias de vida
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ENTREVISTA 2: 18.04.2013
- 00:06:31 1º Bloco: Relação emocional com o documentário e com o filme “Wilsinho da Galiléia”; o método de filmagem; história de “Ramirinho”.
- 00:10:32 2º Bloco: Anos de proibição do filme; contexto de gravação do filme; decepção com a censura; opção pelo trabalho na TV; histórias da vida de Wilsinho; a importância que deposita num projeto político e estético; o filme de intervenção; “Vlado” como exemplo da comoção pessoal gerada pelo processo de realizar um documentário.
- 00:20:25 3º Bloco: Contato com Vladimir Herzog (Vlado); reencontro em Londres em 1968; parceria com Jean-Claude Bernardet; prêmio com o filme “Gamal”; reencontro com os amigos exilados; vontade de voltar para o Brasil e retomar “Liberdade de imprensa”; incômodo com a publicidade institucional da ditadura; projeto com Herzog e Fernando Jordão.
- 00:29:37 4º Bloco: Método usado no Hora da notícia; aprendizado com Vladimir Herzog sobre o papel do intelectual; capacidade de entender e transmitir característica de Vladimir Herzog; discussões e sentimento ético de Vlado.
- 00:37:33 5º Bloco: Tentativa de realizar o filme “Caso Vlado Herzog” em 1990; filmagem do projeto articulado com câmeras digitais; experiência com mídias digitais em “Vida de Artista”; mídias digitais e expansão do mercado cinematográfico; relação cinema e vídeo nos anos 90; dificuldade de lidar com a emoção de filmar a história do amigo; repercussão e exibição do filme.
- 00:44:40 6º Bloco: A formação cinematográfica e cinefilia; o Primeiro Encontro Latino-Americano de Documentaristas em Buenos Aires em 1965; motivos de não se considerar cinéfilo; o cineclubismo e a reação à ditadura.
- 00:48:29 7º Bloco: Vontade de ser reconhecido; admiração por outros cineastas com um distanciamento; bom relacionamento com Rudá de Andrade; simplicidade comum entre Rudá e Vlado; tentativa de aproximação por Paulo Emílio.
- 00:56:51 8º Bloco: Definição de um grupo do Cinema Novo e dificuldades de relacionamento; exemplo da retomada do cinema brasileiro; como o nome foi excluído ou incluído em publicações sobre a retomada do cinema brasileiro.
- 01:04:05 9º Bloco: O Cinema Novo como um movimento; autonomia do cinema; Embrafilme; trabalho na TV de São Paulo com Vlado; relação cultura e política; radicalismos quanto à criação da Embrafilme; divergências na Embrafilme sobre as formas de agir no Rio de Janeiro e em São Paulo.
- 01:11:02 10º Bloco: Os filmes “Doramundo” e “País dos Tenentes”; trabalho na Rede Globo; processo de busca de uma nova linguagem; repercussão de “Caso Norte”; “Doramundo” e volta ao cinema com Vladimir Herzog; convite da TV Cultura para “Vlado”; realização do filme com Alain Fresnot e José David; breve passagem de “Vlado” pela TV; ida para o MDB; prisão de Vlado.
- 01:27:23 11º Bloco: Rivalidade de Rio e São Paulo no Globo Repórter; depoimento de Paulo Gil Soares; saída da Globo; refinamento da obra de Eduardo Coutinho; paralelo entre “Teodorico” e “Caso Norte”; sucesso do programa; expansão do espaço de exibição de filmes documentários em salas de cinema; relações de trabalho na emissora.
- 01:41:50 12º Bloco: A Reunião dos Produtores Independentes no início da carreira; criação de uma distribuidora em São Paulo; trabalho com Glauber Rocha e Luís Sérgio Person; filme comercial para financiar um filme autoral; “A Hora dos Ruminantes” com roteiro de Jean-Claude Bernardet; fracasso do filme “Panca de Valente”.
- 01:49:04 13º Bloco: Inviabilidade do modelo de produção brasileiro; modelo de cinema americano; alcance dos filmes feitos com o Globo Repórter; acusações sofridas pelo trabalho na TV; briga na exibição dos seus filmes no Museu da Imagem e do Som;
- 01:56:26 14º Bloco: Projetos enquanto secretário estadual de Cultura de São Paulo; a série de TV “Travessia”; projeto “Na Sobra da História” e a presidência do Memorial da América Latina; projetos atuais de cinema; projeto “Vila dos Confins”; vontade de voltar a fazer cinema.
- 02:01:34 15º Bloco: Perspectivas do cinema atual; fatores históricos e sociais; paralelo entre o atual cinema brasileiro e os contextos político, social e econômico; profissionalização no cinema; diferença entre projetos atuais e da sua geração; a potência do filme.