José Américo de Almeida

José Américo de Almeida nasceu em Areia (PB), em 1887, pertencente a uma família com influência na política da região.

Advogado, bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife em 1908. Em 1911, foi nomeado promotor-geral do estado da Paraíba, cargo que ocupou até 1922, quando tornou-de consultor-geral do estado. Bem relacionado nos círculos literários paraibanos, no ano anterior publicara seu primeiro livro. Em 1928, projetou-se ao lançar A Bagaceira, considerado o ponto de partida do novo romance regional brasileiro.

Nesse mesmo ano, iniciou sua participação na gestão de João Pessoa à frente do governo da Paraíba. Como secretário estadual do Interior, implantou forte tributação sobre o comércio entre o interior paraibano e o porto de Recife, até então livre de impostos, com o objetivo de reforçar as finanças estaduais e fortalecer o porto de Cabedelo (PB). Tal medida acabou por gerar grande descontentamento entre os fazendeiros do interior do estado, entre os quais o coronel José Pereira, cuja influência política se estendia a outros estados nordestinos.

Nas eleições presidenciais realizadas em março de 1930, apoiou a candidatura oposicionista de Getúlio Vargas, que tinha João Pessoa como vice em sua chapa. Poucos dias antes do pleito, o coronel José Pereira sublevou o município de Princesa, sua base política, contra o governo paraibano. A Revolta de Princesa, como ficou conhecida, recebeu apoio do governo federal e causou sérios problemas ao governo de João Pessoa. José Américo foi deslocado, então, para a Secretaria de Segurança, participando pessoalmente da repressão à rebelião.

Nessa ocasião, elegeu-se deputado federal, não tendo, porém, seu mandato reconhecido pela Comissão de Reconhecimento de Poderes da Câmara Federal, vitimado pelo expediente da "degola". Participou ativamente das articulações do movimento revolucionário que levaria à deposição do presidente Washington Luís, em outubro, impedindo que o governo federal fosse entregue a Júlio Prestes, eleito nas eleições de março. O movimento revolucionário, cogitado desde antes da eleição, acelerou-se após o assassinato, em junho, do governador João Pessoa por um correligionário do coronel José Pereira. José Américo foi designado chefe civil da revolução nos estados do Norte e Nordeste, cabendo a chefia militar a Juarez Távora. Deflagrado o movimento no dia 3 de outubro, já no dia seguinte José Américo assumia o controle do governo paraibano, ao mesmo tempo que dava posse, junto com Juarez Távora, a diversos interventores nos estados vizinhos. Após a posse de Vargas à frente do governo federal, foi nomeado ministro da Viação e Obras Públicas.

Participou ativamente da formação do Clube 3 de Outubro, organização que buscava dar coesão aos revolucionários que defendiam o ideário tenentista. Após combater a proposta de constitucionalização do país nos primeiros anos do novo regime, foi designado por Vargas para compor a comissão encarregada de elaborar o ante-projeto da futura Constituição. Como ministro de Estado participou, na condição de membro nato, dos trabalhos constituintes entre 1933 e 1934, articulando a permanência de Vargas no poder.

Em julho de 1934, exonerou-se do ministério e elegeu-se senador pela Paraíba. Já no ano seguinte, porém, renunciaria ao seu mandato para ocupar, por indicação de Vargas, o posto de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Durante o ano de 1937, teve o seu nome lançado para concorrer à sucessão de Vargas nas eleições previstas para janeiro do ano seguinte. Recebeu, então, o apoio de quase todos os governadores e de membros do governo federal, procurando apresentar-se como o candidato situacionista. Os opositores do governo federal, por sua vez, lançaram o nome do governador paulista Armando de Sales de Oliveira, enquanto a Ação Integralista Brasileira (AIB) lançou o seu líder, Plínio Salgado. José Américo realizou intensa campanha, na qual assumiu um discurso esquerdizante e realizou manifestações em favelas e locais populares. Vargas, porém, frustrou a expectativa dos candidatos ao promover, em novembro de 1937, o fechamento do Congresso e o cancelamento das eleições presidenciais, dando início à ditadura do Estado Novo.

José Américo afastou-se, então, de Vargas, mas manteve-se em seu posto no TCU durante todo o Estado Novo. No final de 1944, retomou as atividades políticas. Em janeiro do ano seguinte, representou a Paraíba no Congresso Brasileiro de Escritores, evento que assumiu nítido caráter antiditatorial. No mês seguinte, concedeu entrevista ao jornalista Carlos Lacerda, publicada no Correio da Manhã, criticando o governo federal. Essa entrevista rompeu com a censura até então vigente no país, alcançando grande repercussão.

Em seguida, dedicou-se à articulação da candidatura presidencial do brigadeiro Eduardo Gomes, lançada por opositores do Estado Novo reunidos na União Democrática Nacional (UDN), fazendo parte, inclusive, da comissão diretora do novo partido. A eleição, realizada em dezembro de 1945, foi vencida, porém, pelo general Eurico Gaspar Dutra, apoiado por Vargas, deposto dois meses antes pelos chefes militares.

Em janeiro de 1947, deixou o TCU ao eleger-se senador por seu estado natal. Nesse mesmo mês foi escolhido para a presidência nacional da UDN. Em maio do ano seguinte, porém, desligou-se do partido por discordar de sua excessiva aproximação com o governo de Dutra. Fundou, então, na Paraíba, o Partido Libertador, legenda pela qual elegeu-se governador do estado em 1950.

Em 1953, já reconciliado com Vargas, deixou o governo paraibano e voltou a assumir o Ministério da Viação e Obras Públicas, durante o segundo governo do político gaúcho. Com o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, demitiu-se do ministério, apesar de ter sido convidado pelo presidente Café Filho a permanecer no cargo. Reassumiu, então, o governo da Paraíba.

Ao terminar sua gestão à frente do Executivo paraibano, afastou-se dos cargos públicos. Manteve, porém, forte influência sobre a política daquele estado ainda por muitos anos. Em 1964, deu apoio ao golpe militar que depôs o presidente João Goulart e instalou novo período ditatorial no país.

Em 1967, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Morreu em João Pessoa, em 1980.

 

FonteDicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001