Dicionário Histórico-Biográfico da Primeira República
O texto abaixo está presente nas páginas introdutórias da versão impressa do Dicionário Histórico-Biográfico da Primeira República, e foi redigido por Alzira Alves de Abreu, coordenadora geral do DHBPR.
O Dicionário histórico-biográfico da Primeira República tem a finalidade de oferecer aos estudiosos, e a todos os interessados em conhecer a história política do Brasil, dados, informações e análises sobre o período que vai da Proclamação da República, em 1889, até a Revolução de 1930.
Recuando no passado, a obra dá continuidade ao trabalho iniciado com o primeiro dicionário histórico produzido pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC-FGV), coordenado por Israel Beloch e por mim: o Dicionário histórico-biográfico brasileiro 1930-1983, obra pioneira publicada em 1984, reeditada em 2001 sob o título Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, e relançada em 2010 em versão on line. Desde sua primeira versão o DHBB tornou-se um instrumento de trabalho indispensável para todos os pesquisadores e estudiosos da história recente do país, comprovando-se assim a importância desse tipo de obra. Com este novo dicionário, pretendemos completar o arco de informações necessárias ao estudo da história de todo o período republicano.
A Primeira República
A Primeira República, iniciada com o golpe que pôs fim à Monarquia em 15 de novembro de 1889, foi durante muito tempo analisada por historiadores e cientistas sociais a partir da ruptura da Revolução de 1930. Tal acontecimento foi visto como um marco na modernização do país, a partir do qual se intensificou a industrialização, ocorreram a reorganização e a modernização do aparelho de Estado, se assistiu à conquista dos direitos trabalhistas. Uma Nova República teria surgido por oposição à anterior, que foi então chamada de República Velha. Também denominada República Oligárquica, República do Café com Leite, República dos Coronéis, a experiência republicana de 1889 a 1930 é até hoje vista por alguns sob um prisma negativo. Contudo, novos estudos elaborados a partir dos anos 1980 propiciaram uma revisão da atuação das oligarquias regionais, indicando que o sistema oligárquico da Primeira República era mais complexo do que até então se tinha apontado.
O Dicionário que ora apresentamos mostra que a Primeira República foi uma fase de enorme riqueza de ideias, de grande criatividade institucional, organizacional e cultural. Foi um período de grande estabilidade institucional, em que as eleições legislativas e presidenciais ocorreram sem interrupção, e não houve deposição de presidentes. A industrialização e a formação da classe operária brasileira, as organizações sindicais e suas reivindicações trabalhistas também tiveram seu início durante a Primeira República.
Foi ainda nesse período que o Brasil consolidou juridicamente seus limites territoriais. O jornalismo também se destacou através das revistas dedicadas à crítica dos costumes e da política. Foi o momento áureo da sátira, que deu projeção a um grande número de artistas.
O universo do DHBPR
O universo do Dicionário da Primeira República segue o modelo utilizado anteriormente na preparação do Dicionário pós-30. Como o anterior, é composto de verbetes biográficos e temáticos. Foram biografados, para o período 1889-1930, todos os presidentes e vice-presidentes da República, ministros de Estado, governadores ou presidentes dos estados da Federação, senadores e deputados, chefes de revoltas e rebeliões, líderes de movimentos políticos e sociais, lideranças operárias, intelectuais e empresariais, e jornalistas de destaque. Além disso, são apresentados os mais importantes acontecimentos do período, constituições e constituintes, revoltas, rebeliões, movimentos políticos e sociais, instituições político-administrativas e econômicas, partidos políticos, correntes e conceitos políticos, acordos e tratados internacionais e veículos da imprensa escrita e radiofônica.
Apresentar um conjunto de biografias cobrindo um longo período histórico nos coloca diante de diferentes fenômenos sociais e nos permite confrontar como reagiram os indivíduos nas diversas conjunturas. Os personagens biografados, através de suas ações, refletem e explicam as questões e pensamentos próprios do período em que atuaram. Ao trabalhar com as biografias desses protagonistas da história nacional o leitor consegue assim traçar o perfil da elite política brasileira na Primeira República.
Democratização do saber
O Dicionário visa a colocar ao alcance da sociedade um painel informativo sobre a construção da nacionalidade brasileira, ou seja, dotar os cidadãos dos dados indispensáveis para refletir, decidir e intervir na sociedade, dados esses que até agora se encontravam restritos a especialistas e iniciados na história da Primeira República. Nossa perspectiva é a de que um dicionário histórico-biográfico deve ser visto como uma obra de referência e um ponto de partida para novos estudos e pesquisas. Os dicionários são constituídos de uma soma considerável de informações e dados que é colocada à disposição de todos, do erudito ao homem comum. Destinam-se, portanto, à difusão democrática de um determinado tipo de saber.
Os verbetes elaborados para o Dicionário da Primeira República foram construídos com base em informações provenientes de fontes secundárias, como livros, relatórios, jornais, revistas, anais do Congresso, e também de fontes primárias, como arquivos públicos e privados.
Na redação dos verbetes biográficos levamos em consideração as regras básicas de construção de biografias, ou seja, adotamos a forma narrativa e a ordem cronológica, que permitem acompanhar a trajetória de vida dos biografados e estabelecer relações temporais entre história individual e acontecimentos gerais. Uma biografia sempre narra acontecimentos. O verbete biográfico começa assim com informações básicas: data e local de nascimento, profissão dos pais, estudos realizados, entrada na vida profissional, cargos e posições políticas, projetos apresentados ou decisões tomadas em uma determinada conjuntura. O verbete termina com a data e o local do falecimento. Ao final são citadas as fontes que permitiram construir a biografia. Os mesmos princípios regem a construção dos verbetes temáticos, em que se acompanha o desenrolar dos fatos e a trajetória das instituições.
O conteúdo das biografias e dos temas tratados está relacionado a múltiplas determinações: às mudanças estruturais da sociedade, às fontes de informação disponíveis, tanto públicas como privadas, ao papel e às funções do biografado, à conjuntura em que viveu, ao momento histórico em que ocorreu a elaboração dos verbetes, aos valores e à cultura política do período. Outro aspecto importante diz respeito aos valores e às orientações do historiador, desde a escolha das fontes de informação até a decisão sobre a estrutura e o tamanho do verbete, sobre as informações que devem constar do texto e a própria linguagem utilizada para reconstituir a história do período.
As fontes secundárias – biografias, autobiografias, memórias, depoimentos, biobibliografias, obras genealógicas, dicionários biográficos, almanaques profissionais, anais do Congresso, estatísticas eleitorais, relatórios oficiais, histórias de instituições e de períodos, obras analíticas de história e ciências sociais e teses, predominaram entre as obras consultadas. Muitas delas apresentam incorreções factuais difíceis de ser identificadas, o que determina a transmissão de erros, ao longo de gerações.
Deve-se ressaltar ainda que, na elaboração dos textos, houve a preocupação de apresentar as diversas opiniões em conflito, sobre os acontecimentos e a participação dos atores envolvidos, recorrendo-se sempre à citação das fontes consultadas.
Em relação às entradas dos verbetes, bem como à grafia de topônimos e antropônimos, mantivemos os mesmos critérios do Dicionário pós-1930, que se encontram na seção "Os verbetes".
Agradecimentos
Este é o momento para agradecermos a todos aqueles que de diversas maneiras colaboraram para a realização da obra.
Devemos começar agradecendo à FINEP, que nos deu todo o apoio financeiro. Em 2008, quando apresentamos o projeto à Luis Manuel Fernandes, na ocasião presidente da instituição, ele aprovou a ideia e nos incentivou a realizá-la. Seus colaboradores acompanharam o projeto e ajudaram a resolver todas as questões relativas à sua implementação. Ao deixar o cargo, seu substituto Glauco Arbix nos deu o apoio necessário para a conclusão da obra. A todos o nosso profundo agradecimento.
No âmbito da Fundação Getulio Vargas, contamos com a ajuda e incentivo da direção e de pesquisadores de vários órgãos que nos orientaram na indicação de especialistas para a redação de verbetes, especialmente na área de economia. Os técnicos da administração e do departamento financeiro da FGV também nos deram todo o apoio para a concretização do projeto.
No CPDOC, onde foi realizado o projeto, agradecemos a todos os colegas que de diversas formas nos ajudaram a levar a bom termo a tarefa. Muitos elaboraram verbetes, outros indicaram especialistas, outros ainda indicaram a bibliografia pertinente para a preparação de temas e biografias.
Aos colaboradores especialistas que deram sua contribuição para o enriquecimento da obra, nosso maior agradecimento. José Alan Dias Carneiro acompanhou todas as etapas de construção do Dicionário, garantindo o fluxo e arquivamento de todos os verbetes. Foi também responsável pela redação de inúmeros verbetes e pela revisão de muitos outros. Sua participação nos ajudou a concretizar o trabalho. À José Alan o nosso reconhecimento. Dora Rocha teve um papel decisivo na padronização geral dos textos e foi leitora crítica de todo o Dicionário, o que permitiu a qualidade da obra. O nosso maior agradecimento.
O CNPQ e a FAPERJ, através da concessão de bolsas de estudo ao Programa de Pós-Graduação do CPDOC, permitiram a formação de uma equipe de jovens estudantes que, ao mesmo tempo que aprendia as regras da pesquisa histórica, deu uma contribuição das mais significativas para a realização deste trabalho. Aos bolsistas que demonstraram grande dedicação e maturidade ao se dedicarem à pesquisa e redação de textos, nosso reconhecimento.
A pesquisa iconográfica foi inteiramente feita por Mirna Aragão de Medeiros, que demonstrou enorme sensibilidade e profissionalismo. A ela nosso reconhecimento. Não podemos deixar de lembrar a dedicação dos funcionários e técnicos do CPDOC da Fundação Getulio Vargas que nos ajudaram a solucionar os problemas administrativos. A Kely Lobo Neves e sua equipe os nossos agradecimentos.